Cansado de ser arrastado de loja em loja,

sento-me num dos sofás a ouvir o som do piano que se mistura com o ruído de fundo das famílias que se passeiam pelo centro comercial, e a quem a banalidade dos fins-de-semana as faz sentir-se confortáveis, certinhas nos seus mundos regidos por compassos sem novidade.
A melodia do piano acalma-me o desejo de a agarrar, de a proibir de ser como é. Como sempre, deixo-a desgastar-se em devaneios com que não concordo. E aguardo pacientemente que chegue, atafulhada de sacos, embrulhos e fantasias.
Depois, dou-lhe a mão, e dirigimo-nos a Sintra. Existem estradas que não exigem mapas ou que se percorrem sem se verbalizar os porquês e esta é uma delas.

Amo-te, digo-lhe. Amo-te incondicionalmente, com os teus inúmeros sacos, saias, sapatos e malas e sonhos. E amo-te ainda mais assim, sentados na Periquita, a comer um travesseiro quentinho, com recheio de ovo e a sentir o calor da tua mão.

Amo-te, sussurra-me. E pelo brilho no olhar guloso tenho a certeza que sim. A magia visceral de Sintra não lhe permitiria mentir-me.

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