Desemprego e/ou o desespero


"Centro de emprego" - Instituto de emprego e formação profissional - não é mais do que um nome e provavelmente se lhe chamassem de "centro de desempregados", honraria melhor o apelido. O semblante dos que chegam demonstra bem o que vai na alma de cada. A derrota inunda o ambiente ainda antes de serem dadas as informações necessárias para que os formulários fiquem completos. E será que ficam? É-se reduzido, à pressa, a um código identificativo retirado de uma listagem de profissões sempre desactualizada.
Dos vários - ou nenhuns - empregos à disposição, um dos mais recorrentes é o de "coveiro". Mas por ali, as pessoas aparentam já ter assistido ao próprio enterro e pouca ou nenhuma vontade de enterrar mais mortos. Vive-se um período em que entrar no "Instituto de emprego e formação profissional" apenas significa estar desempregado.
A sala enche-se diariamente de um desânimo depressivo, sem dó nem piedade para os que entram e para os que já lá estão. Toda gente se mantém, no entanto, atenta à numeração que se sucede em visores electrónicos - algo se modernizou - que lhes indica quando chegará a sua vez. Só que já chegou. Já receberam a carta de despedimento, o já "não precisa de vir amanhã", o já "não precisamos mais de si". Já se reuniram com o rosto sombrio da incredulidade e insegurança que os perseguirá durante meses. Já foram facilmente descartados, acusados, pisados ou anulados. Muitos foram reduzidos a emoções caóticas que ainda não sabem gerir.

Ir ao "centro de emprego" é um acto que se torna compulsivo após a morte de uma etapa da vida profissional. Não há fuga. Tem que se enfrentar toda essa burocracia mesmo que ainda não tenha sido possível assimilar a situação. Por isso quando ali chegam ainda tentam disfarçar. Mas fingem tão mal que é palpável a indiferença que aparentam perante o óbvio que todos partilham, o medo. Os números passam. Vão enrolando ou dobrando, vezes sem conta, a senha que lhes calhou. Bem vestidos, mal vestidos, assim-assim... Mães com crianças. De todas as raças, de todas as idades, de todos os credos.
E desses, raros são os que reparam numa outra área emocional, reservada aos "veteranos" que aguardam sem reacção por mais uma reunião - ao serem chamados pelos administrativos do centro, assemelham-se a um rebanho cordato - em que lhes será demonstrado pela terceira ou quarta vez que um desempregado de longa duração "não desconta para a segurança social" e que isso "é uma mais valia para a empresa empregadora".
Não fosse a empresa empregadora preferir recibos verdes, já ter gente a receber parte do ordenado "por fora" e a preencher falsas "ajudas de custo" e não precisar desse género de mais valias. Não fosse já um dado adquirido que no "centro de emprego" se tem que comparecer e o resto são papéis para arquivo.

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