Sussurros...

Em determinados momentos creio que irei ceder. Escolher um dos portões que me são sussurrados pelos seres alados que emergem das profundezas da terra...
E é a terrível vontade de ceder que me permite observá-los demoradamente. Medir forças. Tentar compreender até que ponto as órbitas negras desses seres podem ser lidas.
Esperam por mim com a quietude enfurecida que emana de todos as criaturas que não esquecem os seus intentos.
Quantas vezes, num só dia, me atraem até passagens secretas, segredando-me que Deus as colocou ali somente para mim. Falseando os dados. Sacrificando os seus temíveis
espectros a outras vestes... aos sorrisos dos que amei, às palavras dos que nunca esqueci, aos doces momentos do passado e da infância. Até que finalmente as oiça e anseie pelos seus portões. Portões que simulam caminhos que não existem.
Aceno violentamente "não!"

No dia seguinte recomeçará tudo de novo, uma montanha russa de emoções que me fará atingir picos insanos de tudo e de nada. De novo as portas, os caminhos, os precipícios forjados apenas para me iludir. Vozes doces ao ouvido.
Seguidas de momentos em que sairei de mim e alcançarei evasões ilusórias, segundos precisos de paz. Nesses instantes, valho mais a pena. As minhas lágrimas fazem sentido e os meus sorrisos ganham a força dos antepassados. Dos mortos, dos vivos, e até dos que estão por nascer.

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