Nas "apples" também nascem "blogs".

Dou voltas à cabeça de forma a encontrar uma personagem que encarne em condições o meu eu "bloguiano". Um eu que seja mais do que apenas eu. Que seja eu e não o seja. Um eu que possa ser um "travesti" da alma sem ser forçado, errado, estranho ou até que faça pouco sentido. Que num dia use jeans, e no outro se vista a rigor. Que possa ser mulher ou homem. Que possa ser um gato ou apenas notícia numa página de jornal.

O blog, o meu blog, nasceu há um ano, altura de início de muitos blogs. Era a minha contribuição para a comunidade dos blogs, numa forma de livro virtual. Mas ficou parado no tempo, com apenas três ou quatro frases.

Recriminava-me sempre, por não o ter principiado antes. Tenho a terrível mania de achar, que nisto de escrever ou escrevinhar - sim, mesmo que sejam apenas banalidades - deve existir princípio, meio e fim. Detesto os calendário, recebidos a meio do ano, que ficam arrumados, intocados, em algum canto.A minha personagem principal não concorda comigo - aliás, raramente concorda. Mostra-me um velho calendário do ano de 68 – encontrado em que bancada da Feira da Ladra? - e rabisca no dia 20 do mês de Julho: Escrever um blog. - Já está, já o iniciaste! - grita-me animado, e depois pisca-me um olho...

Digo-lhe que comete um erro, que em tal data nem se sabia ainda o que eram blogs. Mau! - resmunga ele entre dentes - Assim não faz sentido, um blog não é um livro? Explico-lhe que pode ser um livro, um diário ou até uma manta de retalhos daquilo que se queira. Que pode ser constituído apenas por palavras incoerentes, ou, e rio-me, apenas colocar lá o código do multibanco. Muito inteligente! - Troça irritada, a minha personagem de expressão azul glaciar.

Não será inteligente, mas o blog é meu e o computador em que te imagino também é meu! - Sempre fui teimosa...

Não gosto de Macs! Computadores para meninas, branquinhos, redondinhos! - reage com um sorriso sarcástico. E, reparo, tem um sorriso idêntico ao meu, excepto na ironia. Não gostas do eMac - fervo de indignação! - e dizes-mo assim, sem pensar duas vezes. Sabias que outros o idolatram? Os Macs são máquinas poderosas, dignas de disputas verbais numa mesa de café. E tu, só porque não gostas de conversas tolas de café, decides que também não gostas do meu computador!O tom irónico ainda ecoa nos meus pensamentos - “Computadores para meninas, branquinhos, redondinhos!”…

Mas é isso mesmo que sou! Um pensamento feminino! Por isso te transformei na minha personagem principal. Porquê? - Questionas-me desconfiado, tal como a neta que leva a cesta à avó e encontra, por vez desta, o lobo. Porquê? - Insistia ela perante o olhar insidioso do lobo. Respondo-te, tal como o lobo na sua gula, que é para te ver, ouvir e cheirar melhor... E acrescento, para entender-te, e até, recriar-te melhor. Conheço o ser humano no seu todo, mas não a ti, igual a mim, apenas diferindo em género. Arre! Cada dia que passa, tornas-te mais ininteligível!

Não necessitaria de caracteres inseridos num blog para te analisar, mas fazê-lo assim, diverte-me e facilita-me o acesso a comentários de terceiros. Transformo-te na minha tese de passagem à meia-idade. E um dia destes, quando eu tiver a percepção real de quem és, poderás continuar a exibir esse teu sorriso irónico, mas garanto-te, ainda hás-de vir a gostar deste meu computador branquinho e redondinho de menina!

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