Um projecto é para toda a vida.

Nunca achaste que isto de artes tivesse futuro. "Artista!" - pensaste - "Aos quinze anos vai ser artista!?" - Eu também não percebia muito bem o que era isso de escolher artes. Ou que a António Arroio também era para miúdas como eu. Mas foi assim que ficou decidido. Eu na António Arroio e tu a achares que eu ia ser artista.

Desde esses quinze anos bem garotos, mantive-me fiel à escolha que me deram de mão beijada. Mais artista menos artista, tornei-me publicitária. Repara... Não é bem artista, é publicitária. Os publicitários são eternos vendedores de ilusões.

Imagino de tudo um pouco para convencer de "a" a "z". Simulo realidades, retoco imagens e mentiras. Um pintor não inventa paisagens que não existem? Uso a mesma paleta de cores. Escolho-as perante um cliente, um "target", um "budget". É a arte misturada com um almoço ou um jantar à pressa, com uma directa ou com o silêncio da noite.

As minhas telas começam em ecrãs de dezassete polegadas e entranham-se pelo hardware dos computadores que utilizo. Vejo-as depois, impressas, por aí, nas mãos de seres anónimos que não me conhecem. Porque nem todos os publicitários aparecem em ecrãs de televisão ou em crónicas de revistas.

Procuro nas novas tecnologias, por vezes, breves instantes de paragem no tempo como quando observo um filtro novo, tantas vezes inútil, mas belo, para o Photoshop. Mas os publicitários não se fazem com filtros, fazem-se com a alma, com a intensidade com que criam ou transformam conceitos em sensações.

Também tu te deixavas seduzir pelas novas tecnologias, fez sempre parte do teu universo essa constante busca de futuro. Sei que hoje, se te mostrasse no site da Apple, o powerbook – fininho fininho - que penso adquirir, tu o prático e eu a sonhadora, teriamos algo de concreto, em comum, para além das tuas dúvidas sobre a constante mudança em que vivo. Porque um computador é algo de palpável. Mas nunca chegámos a ter tempo para falar sobre publicidade, mentiras, verdades ou powerbooks.

Hoje, dezanove de Março, fotografo-te mentalmente, escrevo um texto, faço de ti um projecto - "os publicitários são eternos vendedores de ilusões" - que sei, terei que acabar por guardar na pasta das memórias. E no entanto sorrio, um desses sorrisos que os teus genes me ensinaram. Porque tal como a realidade, também os projectos fazem sempre parte de nós, não se deitam no "trash".

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